terça-feira, 12 de maio de 2009

Fantasminha Brincalhão

A distância, associada ao inevitável passar do tempo, leva a que, a espaços, nos relembremos de algumas das peripécias entretanto esquecidas. Foi o que se passou com a história que se segue, entretanto amavelmente relembrada pelo Bodas. Na noite em questão, encontrávamo-nos invariavelmente barricados no quarto do Bodas, procurando o abrigo possível do Batemuma, quando o acumular do tédio nos levou a fazer das nossas. Mas, estando ali confinados, o que podíamos nós fazer ao Batemuma que simultaneamente nos divertisse e ajudasse a passar o tempo? Passados apenas alguns minutos, parecia que tínhamos encontrado a resposta a essa pergunta! Tratava-se de algo que tinha tanto de brilhante como de singelo. E era precisamente na sua simplicidade que residia a genialidade da ideia e a nossa confiança em obter alguma alegria e alento para enfrentar o resto da noite. Iria resultar? Só saberíamos depois de pormos o plano em prática. Tínhamos, pois, decidido brincar com a nossa ligação à Internet. Mas, uma vez que o modem/router se encontrava encostado à porta do quarto do Batemuma, o barulho dos nossos passos, ou mesmo do botão para o ligar/desligar, ia denunciar-nos de certeza! A este aparente beco sem saída, seguiu-se um daqueles raros rasgos de inteligência que nos bafejam de tempos a tempos: podíamos fazê-lo acedendo à configuração do modem através do seu endereço IP, e nem sequer precisávamos de sair do conforto do quarto para o fazermos! Assim que tudo nos pareceu preparado, demos início à diversão. Depois de algumas vezes em que nos limitámos a desligar, e rapidamente voltar a repor a ligação, começámos, à medida que os cortes de ligação se sucediam, a demorar consideravelmente mais tempo a fazê-lo. E, se durante as primeiras meia-dúzia de vezes nos limitámos, tal como o Batemuma, a ficar em silêncio enquanto esperávamos que a ligação fosse reposta, à medida que a noite avançava, também a nossa táctica evoluía. Passados mais alguns cortes de ligação, começámos a ouvir o som dos pés descalços do Batemuma pela casa enquanto se dirigia ao modem para ver se percebia o que se passava. Aproveitando esta aberta, perguntámos-lhe do quarto: "Tens Internet, Batemuma?" Ao que ele respondeu: "Não. Esta merda está sempre a cair! Não consigo fazer nada!" Durante as interrupções de ligação que se seguiram, os papéis inverteram-se, sendo a vez de o Batemuma nos perguntar: "Vocês conseguem abrir alguma página da Internet?" Com a ajuda de alguma concentração, conseguimos responder sem nos descairmos: "Não, aqui não temos Internet." Passado algum tempo, e para ver se o conseguíamos manter "interessado" durante mais alguns cortes, resolvemos acrescentar: "Olha, foi-se outra vez abaixo! Isto hoje está horrível, tem estado assim o dia todo!" A isto, e com o pretexto de ir ver o que se passava com o modem, seguiu-se, num toque de classe, uma breve passagem pelo quarto dele: "A luz do modem está apagada, deve ser mesmo um problema do SAPO." Isto pareceu convencê-lo, e permitiu-nos repetir a brincadeira mais algumas vezes. No total, não exagero se disser que desligámos a ligação à Internet perto de vinte vezes ao longo da noite. Já para o fim, enquanto perguntávamos a nós próprios no meio de algumas gargalhadas contidas: "Mas como é que ele não desconfia de nada?", recebemos no quarto a sua ilustre visita. Felizmente estávamos preparados para aquela eventualidade, por isso, a única coisa que o Batemuma viu enquanto se queixava do estado deplorável da ligação, foi uma página de erro do Internet Explorer! Em homenagem ao grande Carlos Alberto Vidal, personagem ímpar e incontornável do nosso imaginário infantil enquanto "Avô Cantigas", decidimos baptizar a noite em questão como a noite do "Fantasminha Brincalhão".

terça-feira, 5 de maio de 2009

De indispensável a esquecido

Numa ida à FNAC, ao reparar no convidativo preço de um dos mais míticos álbuns de sempre, o "Dark Side of the Moon", dos Pink Floyd, o Batemuma apressou-se a agarrar uma cópia. Quando me aproximei mais dele, disse-me, todo contente: "Este vai já comigo!" "Acho muito bem", respondi eu. Como não poderia deixar de ser, a conversa não ficou por ali, e o senhor resolveu acrescentar mais alguma informação à conversa, perguntando-me: "Sabes que este é o melhor álbum do mundo para fazer testes de som?" Receoso com o rumo que a minha resposta podia incutir à conversa, respondi, algo hesitante: "Por acaso não sabia." Aparentemente, esta curta resposta foi suficiente, e a conversa ficou por ali. Alguns dias depois, o Batemuma regressou aos Açores para mais umas férias. Curiosamente, apesar de a sua banda ter alguns concertos agendados para esse período, o até então imprescindível álbum para a realização dos tão importantes testes de som, ficou abandonado em Coimbra! Como sei que os concertos se realizaram, das duas, uma: ou é possível efectuar testes de som com outros álbuns, ou uma das muitas cópias piratas do disco que por aí circulam, fazem as mesmas vezes do original…